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sexta-feira, 26 de março de 2010

0 Passeio Socrático

Por Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!

Estamos construindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, autoestima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"

quinta-feira, 25 de março de 2010

0 Esqueça todo o resto


Eu sonhei que estava perdido e você estava tão assustada
Mas ninguem ouviria, porque ninguem mais se importava
Depois desse meu sonho, eu acordei com esse medo
O que eu estou deixando, quando terminar por aqui?

Então se você está me perguntando, eu quero que você saiba

Quando minha hora chegar esqueça o que eu fiz de errado
Me ajude a deixar para trás algumas razões que devem ser esquecidas
Não fiquei resentida comigo, quando você estiver se sentindo vazia
Mantenha-me na sua memória, esqueça todo o resto
Esqueça todo o resto

Não tenha medo de tomar minha dores, eu compartilhei o que fiz
Eu sou forte na superfície, não em todo o resto
Eu nunca fui perfeito, mas você também não

Então se você está me perguntando eu quero que você saiba

Quando minha hora chegar esqueça o que eu fiz de errado
Me ajude a deixar para trás algumas razões que devem ser esquecidas
Não fiquei resentida comigo, quando você estiver se sentindo vazia
Mantenha-me na sua memória, esqueça todo o resto
Esqueça todo o resto

Esquecendo toda a dor por dentro que você aprendeu a esconder tão bem
Fingindo que outra pessoa pode me salvar de mim mesmo
Não posso ser quem você é
(...)

Tradução livre da música "Leave out the rest" do Linkin Park.
Simplesmente linda!


segunda-feira, 22 de março de 2010

0 Não precisa nem falar nada...

QUANDO ME AMEI DE VERDADE

Kim e Alison McMillen

Quando me amei de verdade compreendi que, em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo... Na hora certa... No momento exato... Então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome: AUTO-ESTIMA.
Quando me amei de verdade pude perceber que a minha angústia e sofrimento emocional não passam de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades.
Hoje sei que isso é AUTENTICIDADE.
Quando me amei de verdade parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para meu crescimento.
Hoje chamo isso de AMADURECIMENTO.
Quando me amei de verdade comecei a perceber como é ofensivo forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é RESPEITO.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me colocasse para baixo. De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama AMOR-PRÓPRIO.
Quando me amei de verdade deixei de temer meu tempo livre e de fazer grandes planos abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é SIMPLISCIDADE.Quando me amei de verdade desisti de querer ter sempre razão e com isso errei muito menos vezes.
Hoje descobri a HUMILDADE.
Quando me amei de verdade desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez.
Isso é PLENITUDE.
Quando me amei de verdade percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando eu a coloco a serviço do coração ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é SABER VIVER.
 
 

domingo, 21 de março de 2010

0 Dica de filme

"Ele não está tão afim de você"

No estilo comédia romântica, o filme tem um final meio previsível, mas garante uma boa diversão. Trata-se de várias historinhas de relacionamento onde, em cada uma, acontece um dilema diferente.

Temos a mulher insegura, que não sabe o momento certo de ligar para o cara ou se espera ele ligar, depois do primeiro encontro. Temos a mulher decepcionada, que depois de 7 anos de namoro se cansa do namorado que não acredita em casamento. Temos a mulher vencida pela tecnologia, que só consegue pretendentes virtuais através das páginas de relacionamento. Temos a mulher casada, cujo casamento começa a esfriar e o marido acaba se envolvendo com outra mulher. E temos essa outra mulher, em dúvida sobre o relacionamento com um cara casado ou com um outro apaixonado por ela, mas por quem ela não sente a mesma coisa.

Nesse meio de tantas possibilidades, você com certeza vai se identificar com alguma. Ou lembrar de um amigo ou familiar que já passou por algo parecido.

É um verdadeiro festival de atores famosos: Ben Affleck, Drew Barrymore, Jennifer Aniston , Jennifer Connelly, Scarlett Johansson, entre outros, o que torna o filme mais interessante. Destaque para a já conhecida (mas não tão famosa) Ginnefer Goodwin, no papel de Gigi, a primeira mulher da lista acima.

Uma aula sobre relacionamentos com algumas verdades que precisavam ser ditas. Nota 10!

Sinopse:

Gigi (Ginnifer Goodwin) é uma romântica incurável, que um dia resolve sair com Conor (Kevin Connolly). Ela espera que ele ligue no dia seguinte, o que não acontece. Gigi resolve ir até o bar onde se conheceram, na esperança de reencontrá-lo. Lá ela conhece Alex (Justin Long), amigo de Conor. Ele tem uma visão bastante realista sobre os relacionamentos amorosos e tenta apresentá-la a Gigi, através de seu ponto de vista masculino. Por sua vez Conor é apaixonado por Anna (Scalett Johansson), uma cantora que o trata apenas como amigo e que se interessa por Ben (Bradley Cooper), casado com Janine (Jennifer Connelly). O casamento deles está em crise, o que não impede que Janine dê conselhos amorosos a Gigi, com quem trabalha. Outra colega de serviço é Beth (Jennifer Aniston), que namora Neil (Ben Affleck) há 7 anos e sonha em um dia se casar, apesar dele ser contrário à idéia.




sexta-feira, 5 de março de 2010

0 Comportamento

Você assiste Big Brother Brasil, o famoso BBB? Não? Então não sabe o que está perdendo.

Confesso que eu era uma das pessoas que, no começo, foram resistentes à experiência. Mas bastou assistir uma vez para tudo isso mudar.

Por que? Bom, porque na minha opinião, o BBB é uma aula sobre comportamento humano. Não me interessa a parte bobinha do jogo em si, mas sim como cada um se comporta diante dos desafios, das dificuldades, das mentiras.

Vamos tomar como exemplo essa última edição. A mais interessante, já que fica muito claro visualizar todas essas coisas.

Eles entram juntos e no começo, como em todos os começos, tudo são flores. Parecem amigos de longa data que alugaram uma casa para o fim de semana. Até que surge o primeiro paredão ou a primeira divisão das casas. Cada grupo para um lado. Começam as alianças naturalmente.

Esse começo é igual para todos, mas no BBB 10 algo diferente aconteceu . Um dos grupos "encasquetou" que o outro combinava votos. No paredão que se seguiu, um participante desse mesmo grupo foi eliminado. "Ok, pode ter sido somente uma coincidência" - eles pensaram. Ignoraram até o fato que a saída foi por rejeição. E continuaram firmes na idéia contra o grupo rival.

Próximo paredão. Mais um participante do tal grupo eliminado. E assim continuou por TODOS os paredões que se seguiram. TODOS, vou repetir. Agora pergunte se algum deles já mudou de ideia ou já assumiu que eles fizeram as escolhas erradas? Claro que não.

Isso porque, através dessa aula de psicologia televisionada, percebemos que o ser humano não gosta de assumir seus erros. Não gosta de voltar atrás, mesmo estando mais do que óbvio o seu engano. Eles sabem que o público é o juiz supremo nesse jogo. Sabem que o telespectador ver tudo o que acontece. Se essas pessoas estão eliminando seus colegas de grupo, é porque COM CERTEZA existe algo errado.

É muito interessante observar após cada paredão, a forma como eles digerem a notícia da saída de um colega. No começo fazem todas essas perguntas ("será que estamos mesmo errados?"), mas logo depois, começam a procurar justificativas. Eles se convencem e pronto. Continuam fazendo as apostas erradas. E vão continuar saindo do programa, um por um.

O que fica de lição para quem está do lado de fora? Tenha suas opiniões, faça suas escolhas. Mas quando as pessoas começarem a te dizer que você está agindo errado ou de forma incoerente, pare e pense. Se após a avaliação você concordar com elas, seja humilde o suficiente para assumir suas falhas. Não fique procurando justificativas. Além de ser uma atitude lamentável, você ainda pode evitar uma possível eliminação ;)